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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Alemanha reinventa o Brasil para torcer na Copa do Mundo

Os alemães não podem ser acusados de falta de criatividade. Em tempos de Copa, surgem no mercado novos produtos inspirados no Brasil mas com uma grande liberdade poética em sua criação.


O Brasil se orgulha em dizer que é o país do futebol. Mas os números garantem que esse título parece ser mesmo da Alemanha: a média de público dos jogos da Bundesliga na última temporada, encerrada em maio, foi de 42.622 torcedores. No Brasil, 12.787 comparecem em média a cada jogo do Campeonato Brasileiro. E essa paixão alemã pela bola se reflete fora de campo: a poucos dias da Copa, há pelo comércio e pelas ruas tantas opções em verde e amarelo como nas cores da bandeira do país. E não se pode dizer que os fãs do capitão Philipp Lahm e companhia não sejam criativos. Mais que isso: a torcida pela Copa transforma o comércio alemão em um festival de bizarrices.


Colares havaianos são o item número um: estão em todas as lojas e já aparecem decorando espelhos de carros e bicicletas. Bandeiras para os veículos também: aquelas de prender na janela, em forma de imã para a lataria ou uma espécie de toca para amarrar em volta do retrovisor do carro, deixando de fora somente o espelho. Tem até mesmo uma espécie de nadadeira de tubarão para prender no topo do carro: tudo aprovado pelo departamento de trânsito.

Para ver o jogo, muito estilo: toalhas enormes com estampas de cadeiras de estádio prometem transformar qualquer sala em uma versão privada do Maracanã. Puffs em forma de bola, cadeirinhas de camping com as cores da bandeira, churrasqueiras, marmitas, cafeteiras, canecas, pratos e cinzeiros com um campo de futebol, uma bola, a bandeira alemã ou em verde e amarelo: é só escolher. Há também talheres com cabos plásticos coloridos e por que não, frigideiras estampadas com as bandeiras dos países mais bem cotados para levantar a taça.

As marcas mais tradicionais de cerveja fizeram latas exclusivas para a torcida. A Paulaner criou um copo em forma de meião e chuteira de um gosto um tanto duvidoso. O consolo é que vem de graça para quem compra cinco cervejas de trigo. Mas o poder de barganha aumenta com os sorteios. Os alemães estão confiantes em seu time e procuram as tampinhas premiadas com uma passagem para a final da Copa.

De olho na hora

Além disso, relógios aparecem aos montes: tudo a ver com a preocupação germânica com os ponteiros. Ninguém quer perder a hora do jogo. Perucas, apitos, pulseiras, chapéus, camisetas estão por todos os lados.  Uma parafernália que permite customizar a casa e o guarda-roupa inteiro com produtos licenciados vendidos a preço de camelô.

A oferta é tanta que o comércio precisou de estratégias para conquistar clientes. A rede de supermercados Netto escolheu como garoto propaganda o maior craque brasileiro de todos os tempos (na Alemanha!): o paraibano Aílton. O atacante foi um dos maiores artilheiros da Bundesliga, jogando pelo Werder Bremen e, em terras alemãs, é convocado para vestir a camisa da seleção brasileira em cada campeonato, mesmo sem nunca ter tido essa chance junto a CBF.

Mas com ou sem famosos em seus catálogos, todos os supermercados montaram áreas exclusivas para os produtos da Copa. E os torcedores levam para casa os artigos e versões de pelúcia do tatu-bola Fuleco como se Copa estivesse para ser decidida em Berlim mais uma vez. Pelo menos duas das maiores redes locais lançaram álbuns de figurinhas temáticos. No supermercado Edeka, a coleção Entdecke Brasilien – conheça o Brasil – mistura futebol e animais exóticos: os cromos falam sobre a geografia do país e não esquecem de mostrar as favelas, claro.

Já na rede de mercados Rewe, cinco euros em compras dão direito a um envelope que contém um cromo em papel duro, plastificado, com as informações detalhadas de cada jogador da seleção alemã: uma espécie de supertrunfo. Mas o curioso dessa promoção mesmo é o nome: Ramba Zamba. Nas rodas de brasileiros não se chegou a nenhuma conclusão sobre o nascimento de um nome tão esquisito. O mais provável é uma tentativa de representar a palavra samba com uma pronuncia mais aproximada. O S na Alemanha se fala como a letra Z no Brasil. E o Z, como um TS:  o Zamba fica sem o gingado, mas evoca, de alguma forma, uma pronuncia mais brasileira.

A moda verde e amarela

Aliás, o Brasil está na moda. Outra rede de supermercado, a Kaufland, foi de Ramba Samba também, mas com S. Além dos produtos disponíveis na loja – uma pizza de feijoada, anunciada como um sabor exclusivo do Brasil! – o mercado montou um website exclusivo com receitas para acompanhar o mundial: que toca música caribenha de fundo. E por falar em comida, parece que os alemães decidiram se render ao paladar tropical.

Chocolates populares como Milka (que criou o sabor Champiolada) e Yogurette tem agora versões brasileiras: e parece obrigação colocar limão em todas elas. A seleção de iogurtes também remete à caipirinha: o Brasil foi representado por uma mistura de limão e menta. Sem precedentes.

Claro que cachaça é outro item obrigatório. Pitu é marca líder de mercado. Tão famosa que alguns alemães juram de pé junto que a receita da caipirinha é: limão, açúcar mascavo e Pitu. O nome “CachaKa”, como se diz em terras germânicas, perdeu espaço para a marca. Apesar disso, outras bebidas criaram versões comemorativas do mundial: um rótulo bem colorido, limão e pronto.

O desfile de sabores mexe até mesmo com o que a Alemanha tem de mais tradicional: salgadinhos de milho sabor amendoim em pacotes de festa, salsichas na versão torcedor e claro, as clássicas balinhas de ursinho da Haribo. As tradicionais gomas de gelatina têm sabores especiais para a Copa: um pacote com as cores do Brasil e bandeirinhas da Alemanha para saborear durante o jogo. Até a italianíssima Nutella se rendeu aos meninos de Jögui Low: quem compra a embalagem de 750 gramas ganha maquiagem amarela, vermelha e preta para colorir o rosto.

Aliás, o técnico da seleção alemã também faz figuração no comércio: é o protagonista de uma campanha publicitária de barbeadores. A marca oferece, inclusive, um em verde e amarelo com o logo da CBF. Além disso, prevenidos como são, os alemães querem festa mesmo que chova. Uma loja vende um chapéu-guarda-chuva por módicos 1,99 euros.

Para ver melhor

Em se tratando de cuidar do visual para os jogos, os alemães bateram o recorde. Em vez de acompanhar a bola em campo, lentes de contato trazem o futebol para dentro do olho:  com estampa de bola, da bandeira da Alemanha e do Brasil, por que não?

Mesmo que a Copa esteja apenas começando, os alemães já pensaram no final. Detergente com cheiro de goiaba e limão para lavar a louça suja depois do jogo. Pazinha de lixo e vassourinha com a bandeira do país escolhido. E pra quem perder a Copa, resta chorar. Os alemães não se lembraram de fazer lencinhos de papel exclusivos para isso. Mas na falta deles, fica o papel higiênico de folhas triplas estampado com jogadores e bandeirinhas de futebol da série exclusiva Olá Brazil.


Mas esse desfile de bandeiras e alegorias tem dia para acabar. Ganhando ou perdendo a Copa, os alemães são bastante tímidos em qualquer demonstração patriótica fora de hora. Cicatrizes de um país que não esquece sua história, mas que renasce, otimista, a cada quatro anos.



quarta-feira, 25 de junho de 2014

Copa do Mundo: El hincha de Argentina más guay de Belo Horizonte


Ele não torceu muito. Parecia com um pouco de sono, mas o uniforme estava completo: chuteiras, meião, calções pretos e a camisa azul argentina que tanto pânico causa nos brasileiros. Mas não nesse caso. Do alto dos seus seis anos e os olhos mais expressivos do Mundial, Eduardo acompanhava o jogo entre a Argentina e a Nigéria. Estava em uma lanchonete da badalada região da Savassi, em Belo Horizonte, no meio de grupo todo de azul celeste. Hora ficava no colo da mãe, hora espiando a TV de longe.

Com a classificação garantida em primeiro do grupo, dezenas de hermanos transformaram o Centro da capital mineira em um pedacinho de Buenos Aires, prometendo um novo “Maracanazo” e cantando a plenos pulmões os versos da canção que subiu ao topo das paradas Copadomundísticas:

“Brasil, decime qué se siente; tener en casa a tu papá.
 Te juro que aunque pasen los años; nunca nos vamos a olvidar…
Que el Diego te gambeteó, que Canni te vacunó; que estás llorando desde Italia hasta hoy.
A Messi lo vas a ver, la Copa nos va a traer; Maradona es más grande que Pelé”.


Mas Eduardo não sabia a letra.

- Eres argentino?
- Não, sou brasileiro.

 A mãe explica que o menino virou o pequeno Messi para torcer junto com amigos do país vizinho que ela hospeda em casa durante a Copa.

- E vestido assim, tu torces para a Argentina?
- Claro que não, eu torço pro Brasil!

 O torcedor argentino mais fofo de toda a cidade... é brasileiro!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

No mundo da lua: Lufthansa sugere tiaras de flores e bolsa “favelas” para entra no ritmo da Copa


A Lufthansa tem revistas exclusivas para passageiros frequentes e este mês as duas edições (uma feminina e outra mais geral) falam sobreo Brasil, de cabo a rabo. Mas a visão do Brasil acaba sendo estereotipada, claro. A Woman’s World, que tem a Marisa Monte na capa, traz um editorial de moda inspirado no Rio de Janeiro e sugere tiaras de flores na cabeça.

Essa é a piada. Em Blumenau, terra da Oktoberfest brasileira, a primeira providência pra quem quer entrar no espírito alemão e colocar um arco com flores. E juro: em seis anos de Alemanha, nunca vi nada disso por aqui.


Mas a pisada de bola maior tem grife famosa. No canto da página, a revista sugere uma tote bag (uma sacolinha de pano, na verdade) com os dizeres Favela 74. Não faço ideia do que o designer quis dizer. Mas vale prestar atenção no detalhe da bolsa: é da marca Givenchy e custa módicos 590 euros (cerca de 1.815 reais hoje). Ahã...
de volta à nave mãe - desde 2008 © Ivana Ebel