Eu cresci
em uma casa que, para os dias de hoje, podia bem ser chamada de sítio ou
fazenda. Tínhamos uma grande horta, uma roça com mandioca, batata-doce e milho.
No quintal, vacas, porcos e muitas galinhas mantinham a subsistência. E foi
assim que cresci vendo um monte de coisas que, só quando cheguei a Alemanha,
descobri de onde elas vinham. Tínhamos sempre nabo branco (Kohlrabi) pra sopa.
Fazíamos nosso chucrute (Sauerkraut) e, volta e meia, a função era dar conta de limpar e processar
um porco inteiro: torresmo, toucinho e morcilhas (Blüttwurst) saiam da cozinha.
E saia também uma geléia salgada e meio azeda que, por aqui, achei aos borbotões no mercado:
sim, nós preparávamos Sülze em casa. A Sülze também tem outro nome por aqui: Presskopf (algo do tipo cabeça prensada), que remete aos ingredientes do seu preparo.
Acho que eu
tinha entre sete ou oito anos nessa época e não lembro exatamente da receita.
Sei que as cartilagens, a cabeça, e carnes menos nobres do porco eram cozidas e
depois temperadas com muito cheiro verde. Colocadas em uma forma para esfriar,
a água ficava gelatinosa e bem temperada. Depois era só desenformar e cortar em
fatias para servir. Eu gostava de comer a tal da Sülze no pão caseiro, feito no
forno à lenha, que sempre tinha na mesa lá de casa. Quando cheguei na Alemanha
e encontrei a tal da geleia, comprei um vidro pra provar e fiquei decepcionada.
Apesar da receita ser aparentemente a mesma, não tinha o gostinho daquela que
minha Oma preparava.
Alemã: Sülze ou Presskopf traz carnes da cabeça do porco em uma espécie de gelatina*
Mas eis que
hoje bateu um momento daqueles fome+curiosidade no maridão na hora de fazer as
compras e eles se depara com o insólito desejo de comer Sülzekotelett. Já
explico: não tem nada de bacon, cabeça ou qualquer outra parte esquisita. É uma
costeleta de porco defumada e sem osso (ou seja, Kassler, pra simplificar!),
mergulhada nessa geleia e com uns pedacinhos de ovo, cenoura e pepino por cima.
A aparência não é convidativa, mas o que se pode dizer à fome nessas horas? Ele
veio todo faceiro com a tal iguaria na mão e provamos aqui em casa. Não é tão
boa quanto a da minha Oma – alguém pesou a mão no vinagre que chega a repuxar o
canto da boca – mas foi a primeira vez que, bem faceira, achei uma Sülze alemã
em que eu pudesse sentir o gostinho de infância.
Espia ai a cara to Sülzekotelett no pacote original (vende no Lidl) e no prato, onde fica mais fácil observar a geleia que envolve a carne:
Ta ai mais
uma prova: quando eu falo que Blumenau é a cidade mais alemã do mundo, não to
mentindo! :)
* A foto da
fatia de Sülze, é de Rainer Zenz, publicada originalmente aqui, licenciada de
acordo com as normas do Creative Commons
A Band está
passando uma série bem bacana sobre o mundo no ponto de vista dos brasileiros.
Ou seja, eles encontram brasileiros em lugares diversos e fazem um documentário
mostrando aspectos turísticos e também um pouco da vida dessas pessoas. Uma
amiga minha de infância, a Janiane, acompanhou um dos episódios sobre Berlin e
deu a dica. Assisti e gostei: um jeito bacana de ver a cidade.
O programa
sobre Berlin está dividido em seis partes e os links abaixo são a sequencia pra
ver cada um dos blocos, direto no site da Band. É só dar o play e curtir a
cidade!
Algumas
coisas os guias de viagem e reportagens de turismo não falam, mas é
interessante que você deve tenha em
mente se vier visitar a Alemanha –mesmo que de passagem. Já falei das regras de
convivência e do jeito alemão nesse post aqui, mas essa série “Alemanha em
detalhes”, que este post inaugura, é uma versão mais resumida de tudo, de
coisas bem básicas pra você não fazer feio. Cada post vai ser sobre um tema e
vai misturar curiosidades e impressões.
O post de
estreia é sobre banheiros. Isso mesmo! Então, anota tudo ai.
- Os
banheiros das casas, hotéis e qualquer outro lugar tem um cestinho de lixo, mas
não se joga papel higiênico nele. O papel vai na privada. O cesto é para
absorventes. Aliás, é comum encontrar uns saquinhos plásticos ou de papel no
banheiro. Neles você coloca o absorvente antes de jogar no lixo.
- A
descarga do banheiro tem, normalmente, dois botões. Um deles é para um fluxo de água
menor (se você fez o número um) e ou outro para a descarga completa, em caso de
número dois. A intenção é poupar água: colabore usando a opção certa. Algumas
descargas tem uma placa só. Você aciona ela apertando na parte de baixo e,
quando tudo foi embora, interrompe a descarga apertando novamente em cima e
assim só usa a água necessária, sem deixar correr mais do que precisa.
- Em alguns
lugares você vai encontrar algo semelhante a um suporte de sabão liquido na
parede, dentro do próprio cubículo onde fica a privada. Trata-se de um gel
antibacteriano à base de álcool que você aplica em um pedaço de papel higiênico
e limpa e esteriliza o assento do vaso antes de usar. Bem prático e útil!
- Homens
alemães fazem xixi sentados. Isso mesmo.
As mães ensinam seus filhos desde cedo a sentar para evitar gotas e respingos
pela privada, já que elas mesmas terão que limpar! (Aqui as pessoas limpam suas
próprias casas e empregadas são artigos de luxo que poucos podem ou costumam
bancar). Se você perguntar a um alemão se ele senta pra fazer xixi, espere duas
coisas: primeiro, a resposta direta (Claro que eu sento!) e depois a expressão
de quem não entendeu (leia-se: Por que você está me perguntando isso? Você, por
um acaso, não senta?). Então, meninos, em lugares públicos podem pular essa
regrinha, mas se estiverem visitando alguém, a expectativa é que sentem para
fazer xixi. E não se assustem se encontrarem avisos nos banheiros lembrando
dessa gentileza.
Igual as meninas: "Homens de nível sentam na privada"
- É comum
encontrar, especialmente em prédios mais antigos, a privada com uma espécie de
plataforma. A primeira vez que você usa é meio assustador: fica o “serviço”
todo lá, esperando para ser conferido. E a intenção era exatamente essa. Em
épocas de guerras ou doenças, verificar a presença de sangue – ou mesmo vermes –
nas fezes era uma forma importante de controlar a própria saúde e por isso as
privadas foram desenhadas de forma a permitir esse tipo de “autoexame”. Muita
gente costuma colocar alguns pedaços pequenos de papel higiênico na tal
plataforma antes de usar o banheiro e assim evita que resíduos fiquem presos
nessa parte plana. Achei um vídeo que ilustra bem tudo isso. O banheiro em questão não está lá essas coisas... mas vale é ver o conceito.
- Aliás,
todo e qualquer banheiro alemão tem uma escovinha. Todos, em qualquer lugar. A
ideia é que você deixe o banheiro limpo para o próximo que for usar. Vale para locais públicos, em menor
intensidade, mas vale sobretudo se dividir casa com outras pessoas ou se compartilhar
banheiros em hostel ou hotel, por exemplo: passe uma escovinha antes de sair
pra ter certeza que tudo ficou de acordo.
- Na hora
de alugar um quarto de hotel, preste atenção nos detalhes da descrição. Se o
quarto tiver banheiro privativo, isso vai estar claramente descrito. É comum em
hotéis de categoria turística existirem quartos em que o banheiro é
compartilhado com outros quartos do mesmo andar. Nesse caso, geralmente existe
apenas uma pia no quarto ou nem isso.
- É muito
raro encontrar banheiro gratuito na Alemanha. Mesmo nos shoppings: tem sempre
uma senhorinha cuidando e cobrando. O preço médio é de 50 centavos, mas se o
esquema não for de cobrança (e sim de contribuição, apenas), ninguém vai correr
atrás de você para cobrar o que faltou.
- Aliás,
leve sempre moedinhas de 50 centavos quando sair de casa para passear. As
cidades têm vários banheiros públicos e, para abrir a porta e usar, você
precisa colocar a moedinha. Geralmente essas caixinhas de cobrança automáticas
não dão troco. Ah, esses banheiros são autolimpantes e se trancam para uma autolavagem
entre um usuário e outro.
- Nas
estações de trem os banheiros costumam ser mais caros: 1 Euro e o ticket do
banheiro da direito a algum desconto em compras nas lojas da própria estação.
Uma baita sacanagem! Esses banheiros são, nas cidades maiores, super modernos! A
descarga é automática e o assento da privada gira para ser lavado e seco para o
próximo usuário. Espia ai a tecnologia! eheheh
- Não se
assuste se chegar a um banheiro e ele tiver luz negra ou azulada dentro.
Acostume os olhos e faça o que tem que fazer! Em alguns locais – especialmente shoppings
em cidades maiores e bairros mais alternativos, digamos assim – essa foi a tática
adotada para evitar que viciados fizessem uso de drogas injetáveis nos
banheiros. Com a luz azulada é impossível enxergar qualquer veia do corpo... É
bizarro e nos lugares que vi essas soluções nem creio que se fazia necessárias,
mas se a administração do local optou por elas, deve ter suas razões.
- Os
meninos podem encontrar coisas bem divertidas em banheiros públicos. Para
estimular o uso correto dos mictórios – leia-se “acertar o alvo”, alguns bares
e afins colocam brinquedinhos no local. Nunca vi, mas já ouvi falar e achei um
vídeo para ilustrar. Uns modelos tem um gol e a ideia é acertar a bolinha para
marcar. Outros tem um adesivo em forma de mosca que motiva a pontaria dos
usuários. Espia ai a hora do gol!
- Torneiras
e chuveiros podem ter um único manípulo e, mesmo que isso pareça meio óbvio,
fica a dica: ele funciona ainda como misturador. Mais quente para um lado, mais
frio para o outro: mais ou menos água para cima ou para baixo.
- Água na
Alemanha é algo caro. Muito caro. Por isso, se estiver hospedado na casa de
alguém, colabore com o seu anfitrião e economize: banhos rápidos e não deixar a
torneira aberta para escovar os dentes são um bom começo.
- Aliás, se
estiver na casa de algum amigo, outra dica: tome um banho só por dia, pelos
mesmos motivos anteriores. Alemão toma muito menos banho do que isso (pular um –uns
–dia é algo bem normal aqui).
- Se vier
para a Alemanha, esqueça o conceito de suíte. Mesmo em casas mais requintadas,
raramente você vai encontrar um banheiro no quarto. Alemães estão acostumados a
dividir banheiro com outras pessoas da casa e não enxergam necessidade alguma em
cada um ter uma instalação sanitária particular.
- Ainda
sobre o banho – e pra fechar esse post escatológico -, a água na Alemanha é
bastante calcária e sua pele pode sentir isso em poucos dias, especialmente se
for inverno. A pele começa a descamar e podem aparecer rachaduras nos
cotovelos, tornozelos e joelhos. Nesse caso, um hidratante bem cremoso resolve.
Para as mulheres, a dica é usar sabonete íntimo com PH neutro: faz realmente
diferença e evita probleminhas que podem estragar o conforto da sua viagem!
No comecinho do ano recebemos a visita de
uns amigos e a Luiza estava de aniversário. A comemoração oficial foi sair pra
jantar, mas aniversário sem bolo não funciona. Então, chegando em casa, espiei
os armários e decidi fazer uns cupcakes bem rapidinhos. E não é a que a receita
ficou deliciosa? Agora a Bruna ta precisando de uma receitinha fácil e prática
e, então, esse post vai pra ela: e... respondendo a pergunta que ela fez pelo
Twitter... sim, da pra fazer sem o marzipã, mas eu acho que essa é a melhor
parte. Fiz a receita de olhômetro, mas vamos ver se eu lembro de tudo! :) Vale dizer que o segredo é usar o açúcar de confeiteiro pra fazer a massa: fica leve e muito mais fofa.
Ingredientes (para 12 unidades):
2 ovos
2 colheres de manteiga ou margarina bem
cheinhas
2 colheres bem cheias de açúcar de
confeiteiro
4 colheres de trigo (ou mais, para ficar em
ponto de massa de bolo)
½ saquinho de fermento pra bolo (cerca de 1
e ½ colher de chá)
3 saquinhos de açúcar de baunilha (ou 3
colheres rasas de sopa)
2 colheres de sopa de pó de chocolate
200 gramas de marzipã para culinária (divida
em 12 pedaços)
(Para quem não gosta, pode substituir o
marzipã por brigadeiro ou beijinho de coco. Também da pra fazer sem qualquer um
deles, só misturando as duas massas)
Preparo:
Bata as gemas, a manteiga, a baunilha e o
açúcar até obter uma mistura bem cremosa. Separadamente, bata as claras em
neve. Acrescente o trigo e o fermento e, bem devagar, as claras em neve. Divida
a massa em duas porções. Em uma delas, acrescente o pó de chocolate e misture
até ficar uniforme.
Coloque uma porção da massa branca no fundo
da forminha. Em seguida, pegue uma porção de marzipã e faça uma cobrinha com
ela de cerca de 10 centímetros. Junte as pontas para formar um anel e coloque o
anel de marzipã sobre a massa de baunilha. Coloque mais uma porção de massa,
desta vez de chocolate, até cobrir o anel. Leve ao forno pré-aquecido a 200
graus por cerca de 10 minutos (ou até que estejam crescidos e sem grudar no
palito).
Ingredientes para a cobertura:
100 gramas de chocolate meio amargo (ou ao
leite)
1 colher bem cheia de queijo tipo Filadélfia
(ou de creme de leite sem soro)
Preparo da cobertura:
Derreta o chocolate no microondas (vá
colocando de 30 em 30 segundos e observe se já está derretido) com cuidado para
não queimar. Ainda quente, misture o queijo ou o creme de leite para obter uma
textura de cobertura. Coloque em um saco de confeitar ou em um saco pequeno de
plástico e corte a pontinha. Aplique sobre os bolinhos e bom apetite!!!
Ps.: Obrigadão a Lu que fez as fotins dos
bolinhos e ao Pedro que mandou tudo pra mim!
Variedade: é o supermercado, mas se quiser pode chamar de Disneylândia :)
(fotinho feita pela minha irmã Rafa ou pelo cunhado César, não deu pra descobrir!)
Não há como negar a vocação alemã na
produção de cerveja. Nem no consumo. De Norte a Sul do país a bebida é
unanimidade: o consenso só não existe na hora de dizer qual é a melhor. Nesse
ponto, os bávaros defenderão ferrenhamente seu produto e os alemães do norte
farão coro em dizer que a cerveja deles é vencedora. Bairrismos a parte, o
melhor de tudo é o preço: uma boa cerveja custa menos de 1 euro a garrafa de
meio litro. E não pense que essa quantidade é pra ser bebida em copos, dividida
com os amigos: essa é a porção individual. :) Nos bares, claro, o preço é mais salgado: varia de 2,50 a 3,50
pelas garrafinhas de 330 ml em uma balada normal.
Eu cheguei aqui na Alemanha sem entender
nada de cerveja e, depois de três anos, isso não mudou. :) Quanto mais eu bebo,
mais vejo que não conheço nada! De qualquer forma, esse não é um blog sobre
cervejas: só resolvi escrever esse post para falar do que eu gosto e pra
sugerir algumas cervejas para os amigos que vem me visitar aqui na terra da
batata. Simples assim. Então, se quiser comentar o texto, fique à vontade, mas
não se esqueça que tudo o que vem abaixo é o mais puro e egoísta achismo. Além
disso, aceito sugestões sobre quais ainda não degustei e estão faltando na
lista.
Ah, antes que eu me perca em links de
marcas e afins, preciso falar do grande enigma da humanidade: a pergunta que eu
mais ouvi nas férias pelo Brasil. “É verdade que alemão toma cerveja quente?” A
resposta é bem alemã: Jein! Ja (sim) e nein (não), ao mesmo tempo. Eu já falei
sobre isso em uma das colunas que escrevi para o Santa durante a Oktoberfest de
Blumenau e repito aqui. As cervejas alemãs são mais pesadas que as brasileiras
e feitas para beber em uma temperatura um pouco mais elevada, geralmente entre
dois e seis graus. Considerando o período do ano em que a temperatura está
perto disso (ou mesmo no verão, em que a água dos lagos – usada pra gelar a
cerveja em passeios – não está muito além dos dez graus), fica fácil entender o
porquê dessa fama. Claro que já vi muito alemão bebendo cerveja quente do
mercado, sem dó nem piedade...
Bom, vamos a minha lista das especiais: mas
não em ordem de preferência, porque não saberia dizer qual é a melhor. Cada uma combina melhor para uma determinada ocasião. E fica logo dito
que eu não gosto de cervejas muito amargas e que, depois de fazer a lista, pela
ordem que vieram a lembrança, ficou claro algo que nem eu mesma sabia: minha
preferência por cervejas com sabor predominantemente maltado.
Paulaner Salvator:É uma doppelbock com
sabor bem acentuado de malte e 7,8% de álcool. Foi a primeira cerveja produzida
pela Paulaner e mantém a mesma receita desde o final do século 18. Os monges
que criaram a receita bebiam esta cerveja no lugar das refeições no período da
quaresma.
Schneider Weisse Aventinus Tap 6: Outra doppelbok,
mas de trigo, com 8,2% de álcool. Fabricada desde 1907, reivindica o título de
ser a mais antiga do estilo feita na Bavária. No side da marca, é descrita
como: em tons escuros de rubi, com notas fortes de banana, passas e ameixa, com
toque de alcaçuz. Seja lá o que for, é boa demais! A Tap 7 também merece ser
provada. Nunca sei qual das duas eu gosto mais!
Duckstein Rotblondes:Por alguma razão que eu desconheço, essa Altbier com 4,9% de álcool é mais
cara que as demais no mercado. Mas merece ser provada: tem um cheiro frutado e
uma espuma bem cremosa e é bem pouco amarga. Foi a primeira a entrar na minha
lista das favoritas aqui na Alemanha.
Maisel’s Weisse Original: Mais uma cerveja
de trigo, dessa vez clara, com 5,2% de álcool. É saborosa, com notas de banana
e um fundo meio cítrico. Acho essa cerveja muito melhor que a Franziskaner,
Erdinger ou Paulaner do tipo, embora seja menos popular. É uma cerveja sem
muita complexidade, mas daquelas que certamente você vai pedir o segundo copo.
Mönchshof Kellerbier: Esta honesta
Kellerbier, com 5,4% de álcool, certamente a cerveja que eu mais bebi na
Alemanha. Tem um sabor bem maltado e um retro gosto um pouco frutado. É aquela
cerveja pra tomar bastante, sem culpa e sem ressaca braba no dia seguinte. Sem
contar que o “plop” na hora de abrir a garrafa faz toda a diferença. Ah, vale
dizer que, infelizmente, dessa cervejaria, a Kellerbier é a única que merece
atenção.
Augustiner Edelstoff: Eu não provei todas
as cervejas da Augustiner, mas pela fama, devem ser todas muito boas. Minha
favorita nesse pacote bávaro é uma Munich Helles Lager com 5,6% de álcool: além
de deliciosa, é linda. Adoro o desenho do rótulo tanto quanto o sabor suave e
refrescante.
Hofbräu Oktoberfestbier: mais uma da
Baviera, esta é uma cerveja de março (Märzbier) e consumida durante a
Oktoberfest. Só pode ser chamada assim por ser feita no Sul da Alemanha, já que
se trata de uma denominação de origem controlada. Tem 6,3% de graduação alcoólica
e entra na lista mais pelo charme do que pelo sabor. Como não é vendida o ano
todo, tem sempre aquela sensação boa de encontrar a nova safra no mercado.
Staropramen Lager: para que não me chamem
de bairrista, coloco aqui uma não-alemã. Devo dizer que as cervejas tchecas são
maravilhosas, mas por hoje fico somente com a minha favorita. Vende em qualquer supermercado na Alemanha. Trata-se de uma
pilsner suave, com 5,0% de álcool e sabor bem frutado com um fundo levemente
adocicado e maltes bem leves. É refrescante e deliciosa.
Claro que na Alemanha tem muita cerveja
ruim, mas para escolher apenas uma que represente toda a desgraça engarrafada,
não preciso pensar muito:
Oettinger Pils: É a cerveja oficial de
todos os mendigos e desocupados do país, já que é vendida a 35 centavos a garrafa
de meio litro. Não sei nem o que falar do gosto: papelão com cachorro molhado,
embora eu nunca tenha comido o primeiro e nem lambido o segundo. O mais cruel é
ver esta porcaria de cerveja vendida como “especial” ai no Brasil. Alguém ta
ganhando muito dinheiro com isso.
Cerveja no Brasil
As cervejas brasileiras não são ruins: só
não têm personalidade. Como o clima do país é, em geral, muito quente, as
cervejas mais fracas acabam combinando melhor. Confesso que no primeiro gole de
Brahma depois de três anos de Alemanha eu tive a sensação de estar bebendo
água. Mas como a companhia dos amigos não tem preço, acho que qualquer cerveja
no Brasil tem um sabor muito especial. Eu tenho minhas favoritas por lá também:
cheias de personalidade e de sabor, diferente das marcas mais tradicionais, mas
não vou falar muito sobre elas não. Ficam só os nomes.
De Blumenau, recomendo a
saborosa Strong Golden Ale da Eisenbahn. Se for pra Pomerode, faça o favor para
si mesmo de provar a Imperial Stout da Schornstein: deixa qualquer Guinness no chinelo!
Entre as comerciais brasileiras, minha favorita ta bem longe de ser uma
unanimidade: gosto de Kaiser Gold e, na falta, vou de Brahma Extra.
Eu estava aqui, bem feliz, começando a
fazer um post sobre cerveja, quando chega a administradora do condomínio,
atendendo a um chamado meu, para ver os probleminhas do meu apartamento.
Estragou de vez o dia que já tinha começado do avesso: perdi aula porque o
despertador não tocou, meu computador ta embrulhado pra viagem – já que vai pra
assistência técnica – mas ninguém da UPS apareceu pra buscar, conforme o
prometido pela Toshiba.
Vamos aos fatos: eu moro no térreo e faz
meses que resolveu chover todos os dias em Berlin. Todo o santo dia, mesmo
quando faz sol. Logo, começou a entrar umidade e uma parte do piso do meu
quarto resolveu se posicionar como uma ponte levadiça. Uma bola vindo do nada,
fazendo um arco gigante que, com o passar dos dias, implodiu em um buraco de um
meio metro no chão. No ato do inchaço, já tinha chamado uma coleguinha da
administradora do prédio para ver e ela me disse: é falta de ventilação, abra a
janela todos os dias que vai voltar para o lugar.
Desde esse dia o quarto tem sido um espaço
inutilizado durante o dia: com a janela aberta (e uma temperatura entre 3 e 8
graus na rua), o ambiente fica de gelar os ossos. De fato a tal da bola
encolheu, mas muito longe de voltar ao normal: andar pelo quarto é como pisar
em um chão “crocante”. Enfim, veio hoje a tal da administradora oficial ver o
estrago e começou já dizendo que é culpa minha porque não abro a janela. Falei,
educadamente que abria a janela.
Então veio ela me dizer que eu não abro
corretamente... que eu devo abrir não só em cima (quem mora aqui na Alemanha
sabe bem esses dois jeitos de abrir a janela) e sim toda, por meia hora, de
manhã quando eu acordo e a noite, antes de dormir. Isso mesmo, abrir tuuudo
antes de dormir porque, segundo ela, em menos de dez minutos, fica tudo
quentinho novamente. Aham Cláudia, senta lá.
Escutei o discurso todo (em um tom
agressivo do gênero: você é uma idiota que não sabe nem ventilar a sua casa e
vai ter que pagar a conta) e disse que toda essa umidade era culpa do prédio.
Se ela sabia disso, que fornecesse um desumidificador junto (o AP é temporário
e 100% mobiliado, estilo flat pra quem ta em business pela cidade). Ela riu,
debochada. Fiquei puta. Então ela repetiu mais umas 3 ou 7 vezes como se abre a
janela na Alemanha e eu falei que a janela ficava o dia inteiro aberta já e que
mais que isso não podia ser feito. Disse a ela que eu venho de um país quente e
que se deixasse a janela aberta, acabaria doente. Já espumando de ódio,
pergunto se posso mandar a conta do meu plano de saúde pra administração do prédio.
Ela me olha fuzilando...
Ela insistia. Eu repetia. Ela falava. Eu
respondia. E o diálogo foi tomando uma proporção cada vez mais agressiva. Argumentei
que não havia qualquer problema na sala, onde passamos o tempo todo. Então ela
argumentou que a culpa era minha porque eu cozinhava demais em casa.
Hallo!?!?!?!? Respondi: Sim, às vezes duas vezes ao dia. Eu moro aqui, sabe.
Então ela olhou para o chuveiro e disse que a umidade acontecia por que a gente
tomava banho. Ah???? Essa eu pedi pra repetir, porque achei que a lógica e o
bom senso tinham se perdido no meu alemão torto. Sei que os nativos desse pais
que me abriga acham o banho diário um certo exagero, mas não estou disposta a
assimilar a cultura de forma tão completa, neste caso.
Então ela me disse que tem muitos asiáticos
no prédio que também tem problemas com mofo, especialmente no banheiro. Falei
pra ela que eu costumava limpar o meu banheiro e que não tinha mofo algum, caso
ela quisesse ver: que o problema era mesmo o piso do quarto. Falei pra ela
ainda que, moro no térreo, como ela pode ver, e o portão do condomínio sequer
tem tranca e perguntei se tinha algum seguro caso eu deixasse a janela (que é
uma porta também) aberta e alguém me assaltasse, já que volta e meia vejo umas
pessoas aleatórias desfilando pela minha janela. Falei pra ela que não me
sentia segura em deixar tudo aberto e ficar em um outro cômodo e que também não
ficaria com tudo aberto e plantada no frio, congelando.
A conversa foi indo a um ponto tão bizarro
que ela argumentou que os apartamentos eram feitos para quem vive como os
alemães: ou seja, os alemães. A essa hora eu queria estrangular a mulher, mas
só saiu um: “os alemães estão sempre certos em tudo”, com toda a ironia que uma
conversa multicultural pode conter.
De saco cheio da palhaçada, lembrei a ela
que o meu interfone não está funcionando (de novo). Por conta disso, os
simpáticos carteiros nunca me acham e eu passo mais tempo na fila do correio do
que gastaria indo na loja comprar as coisas que decidi pedir pela internet.
Enfim... A administradora faz uma cara de fuinha e diz... Já fizemos de tudo,
mas não resolve. Cada vez que chove para de funcionar... Eu olhei pra ela, sorri ironicamente e disse: Que coisa essa
chuva toda... tá fora do Ordnung.
Anote ai uma dica de ouro e que certamente
não escreveria em outras circunstâncias: se você está vindo morar na Alemanha,
acostume-se ao fato de que “alemão sempre tem a razão” e que nenhum jeito de
fazer as coisas pode ser melhor do que o jeito alemão. E desista de argumentar.
Eles te ganham no cansaço. Pronto, falei. Eu amo viver aqui e sempre falo das
vantagens que a Alemanha me proporciona. Mas em dias como hoje eu queria mesmo
era dominar o idioma em todas as suas entrelinhas e subjetividades... ou ao
menos queria fugir daqui.
Esse é o
primeiro post de 2012 e tive que me segurar para não falar da festa da virada
ou de resoluções para o ano novo: foi só esperar uns dias para que todos esses
assuntos ficassem “fora de moda” e pronto, cá estou eu pronta pra estreia.
Então, a pauta do dia é Berlin e como conhecer melhor as suas mil facetas. Nós
recebemos visitas por aqui nesse fim de ano e, com isso, acabamos tendo a
desculpa de fazer um pouco mais de turismo por essa cidade tão cheia de coisas.
Na verdade, Berlin é legal por isso: tirando meia dúzia de lugares
obrigatórios, mesmo para quem mora aqui ela nunca se torna repetitiva. Então,
esse post é pra falar de três Berlins diferentes e que podem ser uma pedida
muito legal para quem quer conhecer a cidade de um jeito barato e cheio de
curtição.
A primeira coisa a fazer quando se chega na
cidade é providenciar um ticket para o transporte coletivo. Nada de tentar dar uma de espertinho que pega
mal, muito mal, como fizeram essas criaturas aqui. Eu pessoalmente recomendo os
tickets semanais, se a estada for um pouco mais longa ou os coletivos diários,
para até cinco pessoas. Você vai precisar deles de qualquer forma, a não ser
que esteja hospedado no centro do centro do centro. Ser apanhado no transporte
sem o ticket correto ou validado (tickets do dia precisam ser carimbados nas
máquinas próprias para isso) rende uma
multa de 40 euros. E não tem desculpa.
Instruções
à parte, é hora de falar sobre as opções de turismo na cidade. Uma eu fiz,
outra o marido fez e a terceira, amigos que hospedamos fizeram e nos deram o
feedback (e as fotos! Danke, Josi e Danilo!): e que fique claro que não temos
qualquer ligação com as empresas que fazem isso. Fica a dica porque os produtos
são legais mesmo: todos passeios a pé
pela cidade, mas com temas diferentes. O primeiro, um roteiro mais tradicional,
pelos principais pontos turísticos. Depois, um roteiro para conhecer a arte de
rua da cidade. Para fechar, um volta guiada
pelos bares underground da cidade.
Berlin em três horas e meia
Quem chega
a Berlin logo descobre que a cidade é, na verdade, a conturbação do que já
foram várias cidades independentes. Há muito o que se ver e, sem organização,
pode-se perder muito tempo indo de um lado para o outro quando muito do que se
pode visitar fica perto. Uma boa dica é acompanhar um grupo guiado. Esse aqui,
que o Joatan, meu marido fez, é gratuito, mas espera-se que os participantes
contribuam com algum tipo de gorjeta no final: de 3 a 5 euros por pessoa é a média.
O passeio
(em inglês) dura cerca de três horas e meia e cobre os principais pontos do
centro da cidade, repleto de explicações históricas, arquitetônicas e
contextualizando os monumentos e prédios
visitados: é uma forma de ver – e viver – Berlin com os olhos um pouco
mais abertos e entender porque a cidade é tão diferente de qualquer outra no
mundo. Vale dizer que o guia passa por lugares como o Memorial aos JudeusMortos na Europa, mas não há tempo para visitar os museus. Anote os mais interessantes para voltar no dia
seguinte com mais calma. Curiosidades que estão fora dos guias tradicionais,
como o estacionamento que hoje cobre o espaço onde ficava o búnquer onde Hitler
se escondia e foi morto estão entre as paradas.
O búnquer
de Hitler: hoje um estacionamento cobre a área onde as lideranças nazistas se
refugiavam durante a guerra
Arte de rua
Mesmo em
poucos minutos, é impossível não perceber que tinta spray e colagens são parte
do cenário urbano de Berlin. Mas antes de sair dizendo em tom pejorativo que a
cidade é toda pixada, vale separar o joio do trigo. Há muita arte nas ruas de
Berlin: intervenções de artistas conhecidos e anônimos por todas as partes. Para quem gosta do
cenário mais alternativo, este é o passeio perfeito. Percorre galerias, ruas,
becos por onde você nunca andaria sozinho e explica quem fez o quê e porquê. E
nada de achismos: os guias são, na maioria, estudantes de arte e conhecem a fundo
as peças que vão apresentando, complementando as explicações com imagens de
livros.
Galerias e
intervenções: o passeio mostra Berlin em seu lado mais colorido e vibrante, como nessa obra de El Bocho (Foto: Danilo Nascimento)
O passeio
termina na famosa East Side Gallery, um trecho preservado do muro onde estão
pinturas que se tornaram ícones da arte de rua depois da reunificação alemã.
Com ou sem guia, o local precisa ser visitado: é interessante por seu valor
artístico e histórico. Em alguns pontos, ainda apresenta o segundo muro e da
pra ter uma ideia de como era o espaço entre as duas Alemanhas, a chamada terra
de ninguém. Ah, para esse passeio
alternativo, vale a mesma regra do primeiro: gorjetas em torno de 5 euros por
pessoa são esperada, embora não obrigatórias.
Um dos clássicos da East Side Gallery: o beijo
dos líderes comunistas Leonid Brezhnev e Erich Honecker pintado originalmente
pelo russo Dmitri Vrubel (o nome da pintura é: Mein Gott hilf mir, diese
tödliche Liebe zu überleben)
Pelos bares underground
Se você
chega em uma cidade como Berlin logo vai se sentir motivado a conhecer a noite: a atmosfera convida para incursões em bares e clubes. Para quem não sabe
onde ir, para quem veio sozinho e quer companhia para a balada, ou mesmo para
quem quer apenas fugir da lista tradicionais de clubes apresentada pelos livros
de turismo, há um passeio perfeito. Esse não é de graça: custa 10 euros por
pessoa, mas dá direito a algumas bebidinhas pra embalar o percurso. O roteiro
inclui uma série de bares e difere a cada noite: são cinco locais, onde se
passa cerca de 40 minutos e os preços dos ingressos, quando cobrados, já estão
incluídos no pacote.
Na noite em
que fizemos isso, começamos por um bar muito simpático chamado Yesterday, que é
na verdade o ponto de encontro da aventura. Uma decoração psicodélica e muito
rock na trilha sonora. Na sequência, visitamos um bar onde a maior atração é
uma mesa de pingue-pongue onde dezenas de pessoas circulam em volta, em fila
indiana, para dar seu quique na bolina. Depois, o melhor da noite: um bar
gótico que foi criado – de acordo com a guia – por um dos integrantes da banda
Rammstein. O lugar se chama Last Cathedral: é tão temático que chega a ser
kitsch, mas nem por isso menos divertido. Esteja preparado para ouvir muito
metal pesado. As duas últimas paradas
foram em clubes, com pista de dança e tal. Como eu não gosto de música
eletrônica e o maridão não dança, acabamos não curtindo muito. Mas teve gente
que achou a melhor parte: vai muito do gosto de cada um.
Gótico
kitsch: a decoração do Last Cathedral beira o exagero, mas o bar é bacana
(Foto: Josiane Raguzzoni)
Nesse
passeio, o curioso é que os drinks inclusos no preço não são sempre servidos
nos bares visitados. São, na verdade, pequenos shots, organizados pelos
próprios guias durante a jornada: nada de muito especial, mas interessante pelo
contexto. O bacana de fazer um passeio assim é que, depois de uns goles, todo
mundo vira amigo e a noite fica bem mais engraçada mesmo para quem saiu sem
qualquer perspectiva. Ah, só para os não-fumantes fica um aviso. Apesar de já
ser lei na Alemanha a proibição de fumar em lugares fechados, essa prática não
chegou ainda os bares do roteiro. Cheguei em casa completamente “defumada”,
cansada, meio embriagada, mas feliz o bastante pra recomendar o tour aqui no
blog!