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terça-feira, 12 de julho de 2011

Na Alemanha Tem? Coisas que você precisa ou não trazer na mala



Todo o brasileiro que está vindo para a Alemanha , via de regra, começa a pensar em como vai viver muitos meses longe do pão de queijo ou da caipirinha. E ai acaba trazendo a mala cheia de coisas desnecessárias e que encontra facilmente por aqui. A Melize, que mora há alguns anos em Hamburg, tem um blog divertido e muito explicativo: então, leia o blog inteirinho dela antes de fazer a mala. Por aqui, só algumas dicas bem rápidas: os primeiros-socorros antes de entulhar a mala de polvilho.

Deixe em casa:

Pão de queijo: esqueça os sacos de pão de queijo da Yoki. Assim que você localizar um mercado asiático na sua cidade (e qualquer cidade com mais de 50 mil habitantes tem ao menos um), compre Tapioka Mehl e prepare seguindo essa receitinha aqui.

Leite condensado: tem Leite Moça, igualzinho ao do Brasil. Se chama Milchmädchen. Mas tem também o Gesuckert Kondensed Milk (não confunda com o que é apenas Kondensed Milk!), de marcas russas, que são perfeitos e custam muito menos. Olhe aqui! A mesma marca vende também doce de leite: não tem o gosto do doce feito em Minas ou das versões argentinas, mas na hora da saudade você vai achar igualzinho! Ah, eu tenho forminhas de brigadeiro do Brasil, mas já vi aqui pra vender, especialmente perto do Natal e da Páscoa.

Cachaça: se for trazer cachaça, invista em uma amarelinha de boa qualidade. Cachaça branca e ruim tem aqui de monte (Pitu, CanaRio, etc). Claro que são mais caras: em média, uma Pitu custa 10 euros, mas vende em qualquer mercado e, considerando o espaço na mala, o peso e o custo, não vale a pena trazer. Ah, e caipirinha não é algo que você vai tomar todos os dias. O limão (que se chama Limette) é caro: entre 0.30 e 0.60 a unidade.

Farofa Yoki: Não vende farofa aqui. Mas vende farinha de mandioca, também no mercado asiático. Você pode até achar farofa pronta em lojas portuguesas ou brasileiras, nas cidades maiores. O ideal, porém, é aproveitar os últimos dias de Brasil e aprender com a mãe ou a tia como se faz aquela farofinha caseira deliciosa e depois, só repetir a receita com os ingredientes alemães. A minha receita está aqui.

Feijão: os mercados asiáticos e os naturais (Reformhaus) vendem feijão preto. No mercado normal, vende feijão branco e vermelho – tanto cozido, em latas, como cru, como estamos acostumados no Brasil. A não ser que você seja um gourmet e entenda das variações de sabor da safra do feijão A ou B... nem vai perceber a diferença! Coloquei uma receita de feijão rapidinho aqui e da feijoada completa aqui.

Cocada, rapadura, pé-de-moleque: tem tudo isso aqui. A Mel conta no blog dela. No mais, vá ao mercado asiático e confira.

Palmito: vende no mercado, se chama Palmhertz. O das lojas asiáticas é muito ruim, mas aquele que vende em lata, no setor de comida mexicana, bate um bolão.

Azeite de dendê: No mercado asiático, claro... Se chama Palm oil. E a Mel já contou tudo aqui!

Vale por na mala:

Suco de maracujá em pó: Tem maracujá pra vender aqui. Você encontra nos mercados mais finos, junto com outras frutas exóticas. Mas é caro pacas. Tem também uns concentrados. Então, essa é uma coisa que peço pra trazerem do Brasil ou compro em Portugal: Tang de maracujá. Com meio saquinho e uma medida (a lata de leite condensado) de água, você faz o suco concentrado perfeito para um mousse! Ai é só bater tudo com duas caixinhas de Schlagesahne (um creme de leite bem mole, que vira chantilly facilmente) e seu mousse fica perfeito.

Caldo de feijão: Eu curto aqueles caldinhos de cubinho sabor feijão. Quando faço feijoada, nem fazem tanta diferença. Mas quando tempero um feijãozinho de lata, o caldinho faz uma diferença bem boa.

Amaciante de carne: por aqui a carne de boi é dura e sem gosto de nada. Os amaciantes de carne do Brasil ajudam a quebrar um galho e tornar a coisa toda mais palatável.

Sabonetes da Natura: essa é pura frescura. A variedade de sabonetes no mercado reflete o “entusiasmo” alemão por banhos. Contente-se com níveas, Palmolive e Dove. Talvez uma marca da rede local e é isso. Eu amooooo sabonete na Natura: então sempre peço isso de presente. :)

Massa de pastel: Se você for morar no Sul, pode se virar usando Maultaschenteig pra fazer pastel. No Norte, isso não existe e pronto: caia na real. Existem alternativas, como essa, ou mesmo fazer a própria massa (que funciona, mas é uma função maluca). Mas se quiser fazer seus amigos que já moram na Alemanha felizes, traga massa de pastel de presente...

O que você tem que aprender a viver sem:

Caldo de cana: sim, vende no asiático também. Mas é a coisa mais horrível do mundo. Não se parece em nada com o brasileiro...

Eu não lembro de nenhuma outra comida ou ingrediente que não tenha encontrado por aqui... Se eu descobrir alguma coisa, adiciono mais tarde nesse post!

sábado, 9 de julho de 2011

Brasil x Alemanha: prós e contras de escolher um país pra viver


Eu vou ficar mais uns quatro anos morando na Alemanha, pelo menos. Meu marido foi aprovado em uma bolsa de doutorado e, com isso, além dele, eu posso fazer doutorado também. Antes dessa resposta, passamos muito tempo discutindo se voltaríamos ao Brasil com o fim do mestrado ou se tentaríamos a vida um pouco mais por aqui na terra da batata ou em outro canto do Velho Mundo. O fato é que essas discussões serviram como balanço e hoje posso falar com mais clareza sobre as vantagens de viver em cada um dos lugares.

Quer conferir um pouco da disputa? Ai vai então, Brasil x Alemanha...

Família e amigos – Não tem como escapar de ter a família e os amigos de muitos anos no topo dessa lista de prioridades. Assim como não se pode ignorar o peso que o coração tem nessa matemática. As mães – a minha e a dele - , os irmãos dele, a penca de sobrinhos. Ver as crianças crescendo, ajudar a organizar as festinhas de aniversário, os churrascos com a família, as mil decorações para o Natal. Tudo isso não tem preço. Ao mesmo tempo, temos novos e bons amigos aqui, minha irmã mora em Portugal e, estar na Alemanha significa poder estar perto dela com muito mais frequência do que estaria se morasse no Brasil. No fim das contas, não posso ter todo mundo ao mesmo tempo...

Humor – O Brasil é um país alegre, não restam dúvidas. Talvez uma das qualidades maiores do brasileiro é a capacidade de rir de si mesmo e de sua própria desgraça. Com brasileiro não tem tempo ruim e encontrar alguém sorridente pela rua não é exceção, é regra. Na Alemanha é o oposto disso. Apesar de todas as coisas boas que existem por aqui, parece que todos nascem azedos, mal humorados. Sorrir é algo raro e ser bem atendido por aqui então, merece sempre algum comentário aqui em casa. Esteja preparado para caras feias, olhares pesados. Mas saiba que os poucos sorrisos serão sinceros.

Sinceridade – Esse é um ponto que a Alemanha ganha do Brasil. Aqui você pode falar a verdade sem medo de alguém ficar magoadinho. A pessoa quer te visitar e você programou outra atividade para o dia, é só dizer que não pode receber. Não pode ir na festa? Diga não e pronto. Prefiro mil vezes essa aparente frieza – que na verdade é só uma forma de ser franco e direto – do que ao milhares de “sim” cheio de falsidades do Brasil.

Jeitinho – Eu odeio o jeitinho brasileiro e, sinceramente acho que ele é o culpado pela maioria dos problemas do Brasil. O jeitinho é o pai da corrupção: é o pequeno desvio da norma para beneficiar um em prejuízo de outro. Por aqui, as coisas são ou não são. A regra é clara e você deve seguir o Ordnung. Quer fazer algo de forma diferente? Os alemães aceitam argumentos: mostre a eles que o caminho é diverso, mas o fim é o mesmo que estarão dispostos a ceder. Mas isso se não trouxer prejuízo ao coletivo.

Coletividade – Alemão é individualista ao extremo. Ninguém vai te oferecer um gole de refrigerante, um pedaço de chocolate, uma bala. Esqueça. Não é parte da cultura. Mas ao mesmo tempo, a visão de espaço coletivo aqui é o que faz a diferença. Para os alemães, um espaço público é um lugar que pertence a todos e deve ser cuidado por todos. No Brasil, é um espaço que não pertence a ninguém e, por isso, ninguém precisa cuidar dele. O resultado disso é a diferença das praças, parques e jardins daqui e de lá.

Clima – Eu moro no Norte da Alemanha e, pra quem nunca fugiu da aula de Geografia, isso seria o bastante pra definir o inferno. Os dias de chuva são tão frequentes quanto em Londres, sem o charme da capital britânica. O inverno é longo – uns 8 meses - , chuvoso. Neva pouco, chove muito e, no verão, quando você terminou de tirar o último casaco, a primeira folha de outono já começou a cair. É isso e deu. E no Brasil? Morar em Florianópolis, praia por mais de seis meses, vento... ai ai... nessas horas eu me pergunto como é que eu vim parar aqui.

Idioma – Tem um dito popular aqui que diz: “É preciso três meses pra aprender inglês, três anos pra falar francês e 30 anos pra entender alemão”. É exatamente isso. Mesmo que você estude muito, nunca vai falar perfeitamente. Pode morar aqui há cinco, 10 anos e ainda vai trocar algum artigo, errar uma declinação... Se bem que até os alemães erram! Ehhehe E não se pode, nesse caso, dizer que português seja necessariamente fácil... O que faz falta, no fim, é o domínio do idioma em suas entrelinhas: poder fazer piadas, usar ironia, sarcasmos... entender as referências mais sutis. Isso nunca vai acontecer, mesmo que eu fique aqui por toda a minha vida.

Frutas – Manga, mamão, maracujá, pitangas e carambolas do meu Brasil. Não há um único dia em que eu não pense em vocês. Jabuticabas, goiabas, abacates, caldo de cana, mexericas fedidas e mesmo as bananas de mercado. Sinto falta desesperadora de tudo isso e mais, de frutas com gosto de fruta, com cheiro de fruta. Eu compro mangas aqui na Alemanha por pura teimosia: pela textura da manga, eu acho. Porque gosto, não existe e ponto final. Mas é preciso fazer justiça: não existem, no mundo, frutas vermelhas melhores do que as vendidas aqui. Os morangos plantados na Baixa Saxônia (que eu chego de bicicleta, a partir da minha casa) são a coisa mais deliciosa que eu já provei na vida. E as cerejas, amoras, mirtilos... tudo isso faz compensar oito meses de privação com apenas laranjas secas e maças feias no mercado.

Comida – Viver na Alemanha é aprender, em um mês, 32 jeitos de comer porco com batata. Ou batata com porco, se preferir assim. O cardápio é pouco variado no quesito ingredientes e bem interessante quanto a criatividade. Com as raras variações de frango, peru ou peixe, deixam a vida meio sem graça e talvez justifiquem o humor pesado que mencionei antes. Carne vermelha aqui é ruim e, se for importada do Mercosul, tão cara que não da pra comprar. Então, é uma raridade no prato, já que nem vale o esforço pela frustração que vem no sabor. Se bem que eu faço quase todas as receitas brasileiras com ingredientes locais e, ao que me consta, o maridinho não tem do que se queixar... eheheh

Violência – Este é um item que exige poucas explanações. Basta dizer que a sensação de segurança, de andar nas ruas sem medo, de não precisar montar estratégias de como sacar dinheiro e poder usar uma câmera, celular ou qualquer coisa sem olhar em volta, não tem preço. É o item em que a Alemanha ganha mais pontos em comparação ao Brasil e um dos fatores decisivos em me fazer querer viver aqui.

Trânsito – Eu nunca pequei congestionamento na Alemanha. Também nunca dirigi um carro aqui e nunca senti falta disso. O transporte coletivo é excelente e supre todas as necessidades do cotidiano. Nunca senti saudades do trânsito de Florianópolis e de perder duas horas pra ir do Centro Administrativo para o Campeche no fim de tarde de uma sexta-feira...

Custo de vida – Eu só escuto os meus amigos reclamando dos preços no Brasil. Por aqui, as coisas pouco mudaram desde que chegamos, há quase três anos. Pelo que tenho comparado, comida (coisas básicas), produtos de limpeza e afins, são muito mais baratos por aqui do que em terras tupiniquins. Até mesmo o aluguel: não chega a ser uma diferença tão gritante entre morar aqui ou em um lugar confortável da Ilha de Santa Catarina.

Proximidade de outros países – Nesse quesito o Brasil não tem como competir. Ou teria, se as passagens de avião internas não fossem tão proibitivas. Então, o Brasil – que são muitos Brasis – seria um lugar perfeito para viajar. Mas como isso faz parte apenas dos meus sonhos, a Europa sai na frente. Aqui é possível viajar com muito pouco e, com as fronteiras próximas, conhecer muitos países não é uma realidade tão distante.

Custo de vida x qualidade – De um modo geral, aqui se vive melhor com menos dinheiro. Ou vive-se melhor com o mesmo que se gastaria no Brasil. Lazer, cultura e qualidade de vida fazem parte da cesta básica mesmo de quem, como nós, passou muitos anos apenas contando moedinhas para dar conta do sonho.

Cidadania – E por fim, a vitória brasileira neste quesito. Falo de cidadania no sentido de pertencer à sociedade, de ser alguém na vida em termos de reconhecimento. No Brasil, mesmo os estrangeiros, são acolhidos e, nossa mistura tão louca, nos faz mais iguais: somos todos brasileiros: pretos, brancos, loiros, ruivos, morenos, católicos, umbandistas e mesmo gente de religiões que pouco conhecemos. Sim, o Brasil tem problemas, discriminação, racismo... Mas é diferente por aqui: a intolerância é maior, a necessidade de dissimular essa intolerância também é. Existe o “mea culpa” alemão em nunca criticar ou falar mal da cultura alheia ( a culpa no cartório registrada nos anos 40 ainda pesa muito por aqui), mas no fundo, aceitar não significa incluir. Os turcos estão aqui desde o fim da guerra e ainda são “os turcos”, mesmo que seus filhos e netos nunca tenham colocado o pé em Istambul. E o mesmo acontece com todos nós que escolhemos a Alemanha como lar. Mesmo que eu aprenda a língua, que tenha cabelos loiros e olhos azuis, pra sempre vou ser apenas uma estrangeira e nunca, de fato, vou ter a sensação de pertencimento que só o Brasil sabe como oferecer...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pode me chamar de mestre

Fiquei sumida do blog, do twitter, da vida por um bom tempo. Vim pra Alemanha há dois anos e meio por conta de um mestrado em Digital Mídia e terminei na segunda-feira. E em grande estilo. Tirei nota máxima na tese (que aqui é 1.0) e fechei o programa todo com uma média que no Brasil seria o equivalente a 9,7. Foram muitas horas com a cara enterrada nos livros, muitas outras escrevendo, mas estou orgulhosa e feliz. Tenho planos de seguir estudando mas, por hora, confesso que estou curtindo aquela sensação de missão cumprida...

Olhando para trás, nesse momento, posso dizer que o esforço todo valeu a pena: mesmo que não tenha começado a colher ainda qualquer fruto por ter mais esse diploma na parede. O processo todo foi longo e teve altos e baixos. No fim das contas, aprendi bastante sobre tecnologia, mídia, design... mas aprendi mais ainda sobre mim mesma. E isso deixa claro que a semana de folga mental não pode durar mais do que uma semana...

Ah... Para ilustrar, essa ai foi a capinha do DVD que entreguei para os professores com a tese e os arquivos dos testes práticos.

de volta à nave mãe - desde 2008 © Ivana Ebel